Pela Santa Comunhão renova-se de certo modo o augusto mistério da Encarnação.Quando Maria respondeu com seu Fiat à voz do Anjo, o Filho de Deus encarnou-se no seu seio.Mas o Verbo não se contentou em unir-se à mais pura das virgens e, por ela, à humanidade toda, quis ainda unir-se a cada cristão em particular.ora, o Espírito Santo foi o operador divino da Encarnação. Preparara Maria para ser Mãe de Deus.Preservara-a, na sua Conceição Imaculada, derramara sobre a sua Alma, já no primeiro instante, as mais belas virtudes e as cultivara em seguida.E, ao soar a hora de formar a animar o Corpo de Jesus, foi ainda o Espírito Santo que fecundou as entranhas de Maria. E, uma vez realizado esse Mistério, continuou a viver nela, cobrindo-a com sua sombra, a fim de temperar o ardor do sol divino, que ela trazia no seio.
Por nossa vez, aprendamos a nos preparar à Comunhão, em união com o Espírito Santo.
Foi Ele quem santificou Maria, a fim de torna-la digna de ser a Mãe de Deus. Embora as três Pessoas da Santíssima Trindade concorram para a santificação das almas, essa operação é atribuída de modo especial à terceira Pessoa.Dom por excelência, laço entre o Pai e o Filho, e que, presente em nossa alma, nos une a Deus. O Espírito Santo ornou Maria com todas as virtudes e quando ela, receosa, hesitava de devia aceitar a dignidade da Maternidade Divina, por julga-la incompatível com seu voto de virgindade, o Anjo, tranqüilizando-a, respondeu-lhe que o Espírito Santo, vindo a ela, nela havia de operar. Notai que Ele já habitava nela pela plenitude da graça.Por que então estas palavras:”o Espírito Santo virá a vós, débil criatura, a fim de vos fortificar e vos preparar para esse Mistério de sua Onipotência. E, por grande que seja vossa fraqueza, nada podereis recear se, por preferência toda especial, o próprio Deus vem a vós para em vós receber a Deus, pois foi o Espírito Santo quem recebeu em Maria o Verbo Divino e que lhe deu a natureza humana.
Ora, a Eucaristia, pela Comunhão, associa-nos à glória de Maria e às alegrias de sua Maternidade.
Mas quem receberá em mim o Verbo de Deus? Eu, tão pobre e miserável, não o posso fazer. O estado de graça em que julgo estar, talvez não esteja isento de mácula.E, posto que fosse imaculado, que vale isso em presença daquele que é Santo por excelência? Valerão minhas insignificantes virtudes?...Mas Deus as possui todas em grau supremo. Se, portanto, eu vier sozinho receber Jesus, a recepção será bem desigual. Devo, ao preparar-me à Comunhão, unir-me ao Espírito divino, que pelo estado de graça já habita em mim. A ele compete receber Jesus.
Lembremo-nos tão somente que a disposição em que o Espírito Santo nos quer é a de Maria, ao exclamar.”Eis a escrava do Senhor!” ”Senhor, vós me convidastes, ciente de minha pobreza, de minha miséria, de minha ignorância. Ao vosso Espírito, portanto, compete receber-vos e falar-vos por mim, para que a recepção seja digna de vós.”
Não nos unimos bastante ao Espírito Santo, nem tampouco procuramos conhece-lo. E Ele habita em nós. E somos seus templos. Ah! Quantos cristãos não saberiam dizer quem é o Espírito Santo, porque nunca se fala nele. Só à alma interior é dado conhece-lo. Suas operações são todas íntimas. E quem vive exteriormente, embora conheça seus dons, nunca lhe compreenderá a linguagem, toda envolta em amor e doçura. Este é o quinhão das almas recolhidas e silenciosas. Rezai, portanto, muitas vezes ao divino Espírito. Uni-vos a Ele, Ele vos prepara para a comunhão, que fale por vós e por vós agradeça a Jesus, que por Ele Jesus reine em nós.
O arcanjo, ao dizer a Maria que o Espírito Santo viria a ela, acrescentou logo:”E vos cobrirá com sua sombra”.
E que significa isto? É que sendo Deus um fogo consumidor, ao vir a nós, vem com sua Natureza Divina. Se,por conseguinte, o Espírito Santo não nos cobrisse, qual nuvem suave, seríamos logo consumidos.Que somos nós, mergulhamos na Divindade, senão uma palha lançada num incêndio? A Ele compete temperar esse ardor aquecer-nos e vivificar-nos. Ele nos é tão necessário quanto o foi a Maria, a quem cobriu, diz São Bernardo, com sua sombra, para proteger seu corpo virginal no contato com a Divindade.
O Espírito Santo, além de estar em Maria para receber o Verbo Divino, é ainda quem vai criar a alma humana e formar, do sangue virginal, o Corpo puríssimo de Jesus.
Exercerá o mesmo papel em nossas Comunhões. Fazer de nós outros Jesus Cristo é obra essencialmente sua. Espiritualmente, nos quer transformar nele, até fazer de ambos um só ser. Fisicamente, torna-nos participantes do seu estado, depositando em nós o germe da glória, que levará nossos corações à semelhança do de Jesus glorioso. O Espírito do Verbo, que fez sair Jesus do túmulo, ressuscitará nossos corpos para igual glória.
Ele estabelece nas almas união de sentimentos, de forma que, ao acabar Jesus de viver sacramentalmente, viverá ainda, espiritualmente, e o Espírito Santo, prolongando, deste modo nossa Comunhão, prolongará a Vida divina de Jesus em nós.
A comida, uma vez digerida, deixa no estômago seu suco nutritivo que, espalhando-se pelo corpo, o fortifica e o faz viver. Assim também, consumidas uma vez as Santas Espécies, e afastada de nós a sagrada Humanidade de Jesus, a Divindade recebida simultaneamente com seu Corpo, permanece em nós. Permanece não somente como seu tempo, mas como o suco nutritivo no estômago. Fortifica todas as potências da alma, nutrindo-a com inspirações santas e com impulsos de amor sagrado. Transforma-nos no que Ele é em si mesmo, tornando-nos espirituais e divinos até se cumprirem estas palavras magníficas:”qui adhaeret Domino, unus spiritus est”. Quem estiver unido ao Senhor, com ele fará um só espírito.
Que felicidade termos nascido no tempo da Eucaristia! Os justos da Lei antiga, esses grandes Santos da Lei do temor, suspiravam pela vinda do Messias – e nunca lhes foi dado vê-lo! Hoje, qualquer cristão é mais favorecido do que todos os santos Patriarcas!
Mas, praticamente, que devemos fazer? Deixar o Espírito Santo operar em nossa alma e nela formar Nosso Senhor. Deixemo-nos amassar pelas suas Mãos Divinas, qual cera mole, suscetível de tomar todas as formas. Quando formos comungar, preparemo-nos em união com ele, oremos, façamos com Ele nossa ação de graças. Querer dispersar tal auxílio é orgulho e presunção, já que em Ele seríamos incapazes de orar. Mas o Espírito Santo vem ao encontro de nossa enfermidade e em nós ora por gemidos inenarráveis.
Se o invocarmos, agradaremos ao Pai Celeste. Ele poderá, então, com real prazer , dar-nos seu divino Filho, sem receio de vê-lo ser mal recebido. A Nosso Senhor, causaremos ainda maior alegria. Ele, que só ambiciona dar-se a nós, gosta de encontrar um cenáculo vasto e ricamente ornado. Finalmente, agradaremos ao Espírito Santo, cuja glória está em fecundar as almas pelo amor.
